GIB - Teses de Doutoramento / Doctoral Theses
Permanent URI for this collection
Browse
Browsing GIB - Teses de Doutoramento / Doctoral Theses by Field of Science and Technology (FOS) "Ciências Médicas"
Now showing 1 - 10 of 17
Results Per Page
Sort Options
- Autonomia e responsabilidade parental em procriação medicamente assistidaPublication . Silvestre, Isabel Margarida de Figueiredo; Carvalho, Ana Sofia; Vieira, NunoIntrodução: A relação médico-doente em Procriação Medicamente Assistida (PMA) tem particularidades que a tornam única no universo da Medicina: as decisões têm que ser tomadas por um casal, relativamente a eles próprios, a um futuro ser que se procura criar neste contexto, e a eventuais embriões excedentários; pode haver participação de elementos estranhos ao casal, cuja autonomia é também de considerar; o médico pode nem sempre estar disponível para avançar por caminhos que a ciência permite e a lei não proíbe, mas que a sua consciência lhe pode vedar. Da prática clínica diária na área da PMA, aliada a uma preocupação crescente sobre as questões éticas que ela nos coloca, surgiram as questões de investigação: serão os candidatos a PMA verdadeiramente autónomos nas decisões que tomam? Será que ao exercerem determinadas escolhas estarão preparados para assumir a responsabilidade inerente às mesmas? A avaliação do binómio autonomiaresponsabilidade nos casais que recorrem à PMA constituiu então o objetivo deste estudo. Métodos: Após uma revisão teórica inicial, abordando os conceitos de autonomia e responsabilidade, aplicando-os à relação médico-doente, e em seguida à área médica específica da PMA, realizou-se um estudo empírico, multicêntrico, em que através de um questionário anónimo, enviado a 932 casais com embriões criopreservados, se procurou investigar as decisões tomadas relativamente aos embriões, os fatores que influenciam essas decisões, e o grau de dificuldade apresentado na tomada das mesmas. Resultados: De entre os 328 participantes que devolveram o questionário, 35% não pretendiam transferir os embriões criopreservados num novo ciclo, a maioria por já ter completado a família; de entre os 136 que não pretendiam transferir os embriões num futuro próximo, o destino preferencialmente escolhido foi a doação para investigação (47%). Só em 2% dos casais os dois elementos se encontravam em desacordo e 25% do total dos participantes ainda não tinha conseguido tomar uma decisão. Foi significativamente mais fácil tomar decisões no grupo tratado a partir de 2009, após entrada em vigor do formulário oficial de consentimento informado, utilizado por todos os centros desde então. Conclusões: A relevância deste estudo prende-se com o seu caráter multicêntrico, casuística importante e pioneirismo em Portugal. Permite constatar que apesar de a regulamentação da PMA não ter sido antecedida de debate público, não existem discrepâncias significativas entre o conteúdo da mesma e as atitudes dos casais face aos seus embriões criopreservados. Verificamos, com agrado, que a implementação generalizada dos formulários oficiais de consentimento informado facilitou de forma significativa a tomada de decisão; contudo, constatamos com apreensão a existência de um elevado número de indecisos, que adiam até ao limite a expressão da sua autonomia, e se sentem incapazes de assumir a responsabilidade que se lhes exige. Há, portanto, um ainda longo caminho a percorrer: é necessário incluir no diálogo médico-doente, para além dos aspectos técnico-científicos e legais, a necessária reflexão ética, de forma a ajudar as pessoas a reconhecerem os seus próprios valores, a decidirem de acordo com os mesmos, e assim poderem exercer a sua autonomia, de uma forma não apenas jurídica mas moral, e assumir plenamente a responsabilidade decorrente das suas decisões.
- Bioética e literatura : entre a imaginação e a responsabilidadePublication . Magalhães, Susana Pinto Leite Vasconcelos Teixeira de; Carvalho, Ana Sofia; Azevedo, Carlos Borges deO lugar da Literatura na Bioética está estruturado em dois eixos - o eixo dos conteúdos e o das capacidades exigidas na escrita e na leitura e que são essenciais na deliberação ética: as capacidades de narrar e de escutar, de interpretar, de imaginar, de dialogar, de se assumir como um self que é outro para si mesmo e para os Outros, de fazer sentido, de compreender e de criar ou renovar metáforas, e finalmente a capacidade de se constituir como pessoa (fim em si) e como função que desempenha (meio) num lugar identitário, relacional e histórico. As vozes, os contextos, as personagens, o tempo e o espaço são conceitos que atravessam a nossa análise de textos literários, constituindo os alicerces da ponte entre o universo ficcional e as práticas médicas, sociais e educativas que suscitam uma reflexão bioética. Os romances analisados nesta dissertação foram seleccionados pela sua pertinência enquanto promotores das capacidades necessárias à reflexão e deliberação éticas e enquanto universos ficcionais cuja diegese contém em si mesma questões bioéticas. Tomamos como guias desta nossa reflexão a análise que Bakhtin faz da imaginação dialógica inscrita no género literário do romance, bem como o tratado de Paul Ricoeur sobre a identidade e a alteridade humana em Soi-même comme un autre. A Literatura e a (Bio)Ética são marcadas pela alteridade, na medida em que ambas implicam a reflexão sobre o caminho da nossa construção como pessoas, sobre os fundamentos do Ser e do Agir, sobre o sentido da responsabilidade perante e pelo Outro. A hospitalidade da Literatura em relação à Bioética traz para o centro do texto a Vida, fazendo dialogar a Ciência e as Humanidades; a hospitalidade da Bioética em relação à Literatura restabelece o lugar do texto como acto e, por isso mesmo, sob a mesma exigência ética da conduta humana.
- Ciência e ética : reequacionamento da relação sob o prisma da investigação em células estaminaisPublication . Pereira, Carlos Alberto Fernandes de Almeida; Jorge, Maria Manuel Araújo; Carvalho, Ana SofiaResumo: a problematicidade inerente à relação hodierna entre Ciência e Ética – historicamente conturbada, socialmente inquietante e essencialmente derivada, na nossa ótica, da conjugação da educação positiva do investigador laboratorial com as regras de mercado biocapitalista – despoletou, nas últimas décadas, reações circunspectas nos meios culturais e académicos, sobretudo filosóficos, dos quais têm vindo a transcorrer, na circunstância, desígnios descritivos de intendência bioética das tecnologias biomédicas. Avaliada maioritariamente, por parte da comunidade científica, como vetor de ingerência externa em áreas de hiperespecialização epistémica, a tendência prospetiva destes movimentos institucionalizados promoveria, a montante, por parte daquela, planos de veemente oposição reativa, aos quais se seguiriam, de forma estratégica, programas pouco lídimos de acomodação do «constrangimento» ético no asséptico ambiente investigacional. Na complexidade do contexto biotecnológico atual, contudo, a investigação em células estaminais humanas parece consubstanciar-se a um reequacionamento da supracitada relação entre ciência e normatividade, uma vez que a centralidade que a pesquisa estaminal não-embrionária – despojada das dubiedades éticas contíguas ao estatuto do embrião humano – vem granjeando, parece demonstrar como estratégias investigacionais epistemicamente abalizadas e eticamente sustentáveis são possíveis de coadunar, harmonizando-se com as postulações do gregariamente desejável.
- Competências centrais, clínicas e éticas do nutricionista nos cuidados paliativos : construção de consenso, entre nutricionistas, através do processo DelphiPublication . Reis, Cíntia Vanessa Pinho; Sarmento, António Carlos Megre Eugénio; Capelas, Manuel Luís VilaIntrodução: Os cuidados paliativos são cuidados ativos, coordenados e globais e são indubibitavelmente um direito humano. O seu principal objetivo é promover o bem-estar, conforto e a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias. Devido à evolução da doença e aos tratamentos realizados, a alimentação dos doentes paliativos é frequentemente muito alterada, pelo que, o papel do nutricionista nos cuidados paliativos torna-se importante. Metodologia: Determinação, por consenso, através do processo Delphi, de um conjunto de competências profissionais utilizando como painel de avaliadores nutricionistas nacionais e internacionais com, pelo menos, três anos de experiência na área. Após a identificação das competências, através de uma revisão sistemática da literatura, essas competências foram agrupadas em três domínios - centrais, clínicas e éticas - e foram submetidas online ao painel de peritos para avaliação e numa segunda etapa para reavaliação das respostas dadas. Resultados: No final do estudo das 13 competências centrais, 30 clínicas e 18 éticas obtidas através da revisão sistemática da literatura, obteve-se consenso muito elevado ou elevado em 13 competências gerais, 27 clínicas e 18 éticas. Discussão: O conjunto final de competências está em sintonia com o que se encontrou descrito na literatura, nomeadamente em documentos de grupos de trabalho internacionais. Conclusões: Elaborou-se um conjunto de competências que permitirão contribuir para a melhoria da prática assistencial dos nutricionistas que exercem ou venham a exercer funções na área dos cuidados paliatvos.
- Consentimento informado e cirurgia oftalmológica : estado de arte em PortugalPublication . Almeida, Maria Leonor da Costa Duarte de; Machado, Maria do Céu; Carvalho, Ana SofiaO Consentimento informado fundamenta-se na informação adequada fornecida pelo médico ao doente e consentimento esclarecido por parte deste. Exprime respeito pelo princípio da autonomia do sujeito, atitudes, procedimentos, avaliação das expectativas, riscos, alternativas e benefícios associados. Ao médico apela-se ao acolhimento, responsabilidade e informação ao doente, esclarecendo-o, podendo este recusar a informação. Transcrito da Convenção de Oviedo, para a jurisdição portuguesa - Dezembro 2001, estabelece como itens: Competência, Informação, Compreensão, Voluntariedade e Consentimento. O formulário, para cirurgia oftalmológicas é prática comum. O ato de assinar e ler, não elimina o ónus de informar adequadamente. Avaliaram-se duas amostras de documentos de consentimento informado, (49 portugueses/ 23 espanhóis), num estudo de observação analítico transversal, características: de base, gerais e legais. Após análise descritiva, aplicaram-se testes de hipóteses de qui-quadrado ou, testes de Fisher. Analisaram-se 13 características globais: Informação sobre a doença; Clareza da informação; Detalhes técnicos; Riscos; Cuidados pré e pós operatórios; Compreensão da informação; Direito a ser e não ser informado; registo vídeo -foto - assistência formativa; Revogar sem consequências; Substituto legal; Benefícios; Alternativas. Em 2012, redigimos um formulário informativo, para cirurgia de catarata posteriormente aprovado pelo Colégio e DGS. Realizamos dois inquéritos a 111 doentes destinados a cirurgia de catarata, antes e após leitura do Formulário redigido (testes de hipóteses não-paramétricos (Wilcoxon, Mann-Withney e Kruskal-Wallis). Conclusão 1. 91% Informam sobre o que é a doença, não mencionada em apenas 8% dos consentimentos nacionais; 2. O consentimento informado português é de natureza aberta (53%) servindo para todas as situações, sem especificações próprias; 3. Em 31% é em branco, parecendo ser essencialmente legalista; 4. Apenas 16% é descritivo, sobre benefícios, riscos, alternativas e consequências; 5. Em (59%) não existe informação clara, direito a ser ou não informado (90%), autorização para assistência formativa (88%), registo vídeo/foto (80%), revogação de consentimento sem consequências (80%), cuidados pré e pós operatórios (71%) ou benefícios (61%); 6. Inclui referência a substituto legal (67%), mencionando de forma geral descrição de riscos (57%); 7. Pelo contrário o formulário espanhol contém sempre informação: detalhada em (87%) e de natureza aberta (13%); 8. Após leitura do formulário nacional, a informação, amplia-se em 79%; 9. A cirurgia é considerada fácil, pelos doentes, mas gostam de estar informados e participar nas decisões relativas ao tratamento; 10. Os doentes têm confiança elevada nos médicos, sendo o documento visto como seu reforço; 11. O formulário promove o equilíbrio, entre doentes de idade e grau académico diferentes.
- Consentimento informado na assistência privada e pública hospitalar : o que entendem os profissionais de saúde e doentes/família sobre a informação e consentimento informado praticado em PortugalPublication . Vicente, Josefina Cerezo Granadeiro; Carvalho, Ana Sofia; Osswald, WalterFoi objectivo deste estudo: conhecer o entendimento dos médicos, enfermeiros, doentes e família em relação ao CI a partir dos relatos por eles efectuados. A metodologia foi qualitativa e o estudo foi exploratório e descritivo. Decorreu durante os anos de 2006 e 2007, tendo a recolha de dados decorrido entre Julho de 2006 a Janeiro de 2007, em dois hospitais: um público e outro privado. Na análise teórica são focados os seguintes aspectos: a relação médico/ doente, a enfermagem, o doente, a família, o hospital, a informação, o Consentimento Informado em Portugal, as reflexões éticas e a moldura jurídica. Dos resultados obtidos destaco: - O entendimento dos médicos em relação ao consentimento ocorre na relação médico / doente, dando grande importância a esta. - Há uma notória ausência de informação ao doente, sobretudo nos diagnósticos graves. - O trabalho de equipa entre os médicos e os enfermeiros é difícil ou quase inexistente. - Os doentes transmitem a necessidade de serem informados e esclarecidos pela equipa médica, sobretudo quando o é diagnóstico grave. - Os doentes querem participar na decisão clínica. - O Consentimento Informado é considerado útil e necessário na prática clínica, embora na maioria das vezes, o doente não seja informado, nem realizado o CI. - Os principais obstáculos ao Consentimento Informado são: o nível sócio/cultural e económico do doente e a equipa saúde (devido à falta de tempo, de espaço adequado e de hábito). - Os enfermeiros na maioria dos casos, são excluídos da informação e do CI pelos médicos, doentes, família e por eles próprios. - Os enfermeiros consideram que a informação deve ser dada pelos médicos. Porém, dão grande ênfase ao papel do enfermeiro no CI, na informação, na relação enfermeiro / doente considerando que esta contribui para a humanização dos cuidados. - Para a maioria dos enfermeiros a participação no CI e na informação é confusa. Esta encontrase limitada e totalmente dependente do médico. - Existe uma relação entre a qualidade na prática clínica e o Consentimento Informado. - A família considera de extrema importância ter acesso à informação, porém sente dificuldades na comunicação com os médicos. - Os médicos concordam com a obrigatoriedade da obtenção do Consentimento Informado, mas em nenhum dos dois hospitais se realiza o CI. - Não há diferenças significativas entre a assistência pública e a privada a nível do CI, na informação dada ao paciente.
- Crianças que vencem a doença : elementos para um ideal de acompanhamento em cuidados paliativos pediátricosPublication . Brites, Marta Isabel Boto Courinha; Almeida, José Pereira de; Almeida, FilipeÉ das fontes contemplativas que o saber filosófico, por vocação, se aproxima. Nelas se inunda de modos outros de interrogar e se estrear no mundo multiplicado de inovação e tecnologia, perscrutando em tudo o que o homem produz as raízes da sua humanidade. Neste horizonte, propõe-se este trabalho a cruzar olhares entre a Filosofia e a Medicina, na esteira da recente e calorosa área do saber que vem sendo a Bioética. Demora-se o olhar sobre a realidade dos Cuidados Paliativos Pediátricos, na procura do que mais importa para possibilitar a construção pessoal de Sentido. Repensam-se modelos de compreensão e práticas de intervenção existentes, com o objectivo de elaborar um programa de apoio integral, personalizado, centrado na criança e na família, adequado ao contexto nacional. A ser bem conseguida, esta filosofia do cuidar reencontra no acompanhamento personalizado e integral o ideal dos cuidados paliativos em pediatria, entendendo-os como cuidados de acompanhamento da criança e família, que devem integrar o plano de cuidados de saúde nacional, desde o diagnóstico de uma doença grave, limitadora e ameaçadora de vida e com possibilidade de morte na infância e adolescência. Uma criança que recebe os cuidados certos no tempo de duração da sua doença e nos momentos finais da sua vida, também vence a doença. Apresentar e promover esses cuidados é a tarefa maior deste trabalho.
- Cuidados paliativos neonatais em Portugal : construção de consenso entre neonatologistas recorrendo à metodologia DelphiPublication . Branquinho, Joana Catarina da Cruz Mendes; Silva, Lincoln Justo da; Catlin, AnitaEste trabalho integra-se no programa de Doutoramento do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa. Aborda a problemática dos cuidados paliativos neonatais. Teve como objetivos: 1) promover a formação e a informação dos neonatologistas sobre cuidados paliativos neonatais; 2) definir os temas de consenso para a prestação de cuidados paliativos e em fim de vida para Portugal, 3) obter consenso nas áreas previamente definidas e 4) elaborar uma proposta de atuação para Portugal. Na primeira parte do trabalho, apresenta-se uma revisão sistemática da literatura. São temas bioéticos em destaque: a vulnerabilidade do recém-nascido em cuidados paliativos e em fim de vida que reclama uma ética dos deveres e o desenvolvimento de um protocolo de atuação para Portugal. Posteriormente aborda-se o estado de arte dos cuidados paliativos neonatais. Segue-se a parte dedicada à descrição da investigação realizada com o apoio da Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Aqui são enunciados os aspetos metodológicos, a apresentação e discussão dos resultados, as limitações, sugestões e conclusões do estudo. O estudo consistiu na aplicação da metodologia Delphi, em três rondas, a cerca de 41% dos neonatologistas nacionais (57 participantes). Utilizou-se a internet e o correio eletrónico para colheita de dados. Este trabalho permitiu, de forma inovadora, dinamizar conteúdos formativos sobre cuidados paliativos aos neonatologistas portugueses. Foram identificadas sete áreas de consenso, relevantes para a elaboração de um documento orientador destas práticas em Portugal: 1) planeamento (formação médica, recursos humanos e técnicos e local), 2) cuidados paliativos pré-natais, 3) critérios para cuidados paliativos neonatais, 4) os pais (apresentação aos pais, prestadores de cuidados e alvo de cuidados da equipa), 5) necessidades do médico, 6) controlo da dor e dos sintomas e 7) cuidados em fim de vida (etapas para remover o ventilador e critérios para suspensão/limitação da nutrição/ hidratação). Posteriormente, foi elaborado um documento com as principais conclusões e remetido à apreciação da Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria, sugerido documento preliminar de consenso para Portugal.
- Internamento e tratamento compulsivos em pessoas com perturbação mental : estudo das atitudes éticasPublication . Azenha, Sónia Soraia Dias; Serrão, DanielAs medidas compulsivas em saúde mental levantam várias questões éticas, em particular ao médico que se depara com o dever de cuidar, numa sociedade que está, cada vez mais, consciente da autonomia e dos direitos da pessoa doente. Ao longo dos tempos, a forma de encarar a doença mental e o internamento sofreram mudanças profundas. Atualmente, as medidas compulsivas requerem critérios de aplicação específicos, regulados por documentos internacionais e pela lei interna, para restringir o seu uso e assegurar que os direitos dos doentes e exigências éticas sejam respeitados. Constata-se a importância dos critérios de aplicação, dos procedimentos, da monitorização da prática, do exercício dos direitos do doente e da formação dos profissionais em assuntos bioéticos. De forma a assegurar que, a nível nacional, estes objetivos se concretizem é fundamental promover o entendimento destes temas e conhecer a opinião dos profissionais. O objetivo deste trabalho é contribuir para a concretização das orientações relacionadas com as medidas compulsivas, aplicada à realidade nacional, de duas formas: a) contextualização do internamento compulsivo (IC), análise de vários documentos internacionais na área da saúde mental, IC e bioética e comparação com a Lei de Saúde Mental (LSM) portuguesa; b) realização de um estudo transversal, quantitativo, sobre medidas compulsivas, através de um inquérito de opinião elaborado pela investigadora, aos médicos portugueses. O estudo das 99 respostas obtidas (75 especialistas e 24 internos de especialidade de Psiquiatria) foi realizado através da análise descritiva e da comparação entre grupos. Foram estudados: o propósito terapêutico, o risco e a perda de competência para tomar decisões, o direito à informação e a recusar tratamento, a organização e monitorização de procedimentos, no âmbito do IC, a opinião relativa à regulamentação, benefício, utilização e eficácia do tratamento ambulatório compulsivo e a opinião relativa a casos clínicos considerados de difícil decisão. Este trabalho verifica diferenças entre a opinião dos médicos, as disposições internacionais e a lei de saúde mental, bem como a incompleta aplicação das mesmas e a necessidade de desenvolver ações de informação e formação. Foi elaborado um plano de ação/divulgação através da criação de dois folhetos informativos, um para utentes e outro para profissionais, no âmbito dos aspetos legais e bioéticos do IC. De salientar, ainda, a identificação da necessidade de debate acerca de questões éticas e de medidas a implementar, no âmbito do IC.
- Os jovens e a ética da sexualidade : contributos para um programaPublication . Ribeiro, Teresa Tomé; Renaud, Maria Isabel Carmelo Rosa; Veiga, Maria Elisa Pina TomazA compreensão dos jovens sobre a sexualidade e a forma como a integram no seu percurso de vida expressa-se pelos comportamentos que escolhem, os quais poderão vir a ter repercussões positivas ou negativas num futuro próximo. Torna-se assim importante que os programas de educação para a sexualidade possibilitem aos jovens tomadas de decisão esclarecidas e em liberdade. A Bioética surge como o lugar da reflexão ética no cruzamento das duas perspectivas de intervenção: a da saúde e a da educação. Na reflexão feita sobre os resultados duma intervenção anterior em escolas, identificaram-se referenciais para a construção de um modelo teórico de educação para a sexualidade intitulado DIP3 (Desenvolvimento Integral da Pessoa em 3 dimensões: biológica, psicoafectiva e projecto de vida) que desenvolvemos e apresentamos. O objectivo deste trabalho foi compreender se o Modelo DIP3, no contexto das escolas públicas, se apresenta como um referencial para a educação para a sexualidade pelos seus actores, respondendo às necessidades existentes e se contribui para a construção de um conceito de sexualidade que leve a uma reflexão ética abrangente por parte dos professores e por parte dos alunos. Neste sentido foi elaborada a presente investigação enquadrada nas metodologias qualitativas, do tipo investigação-acção, composta por 3 etapas: primeira etapa, diagnóstica, de levantamento das necessidades, identificação dos problemas e auscultação das opiniões na área da educação sexual de 154 professores do 1.º, 2.º, 3.º Ciclo Ensino Básico e Secundário de escolas públicas de Braga, Porto e Lisboa; segunda etapa, constituída por uma formação aos professores sobre o modelo teórico, onde se estruturaram e implementaram programas de educação para a sexualidade, no ano lectivo de 2009/2010, procedendo em simultâneo à sua avaliação; terceira etapa, avaliação de todo o processo de implementação, reflexão com os professores e reestruturação dos programas em cada escola com divulgação à comunidade educativa. No início do estudo a maioria dos professores apresentaram atitudes positivas para com a existência de programas de educação sexual nas escolas, mas afirmavam não ser possível implementa-los por falta de espaço curricular, pelas diferenças entre alunos e famílias e por falta de formação específica dos professores; nos conteúdos sugeridos valorizavam fundamentalmente a componente médico-preventiva; afirmaram que o modelo teórico proposto não era passível de implementação por serem diferentes os valores e os conceitos dos alunos, professores e famílias. No final da intervenção apresentaram consensos para elaboração dos programas; estruturaram programas adaptados às escolas; operacionalizaram-nos duma forma homogénea nas várias escolas; tiveram da comunidade educativa uma boa aceitação, obtendo a aprovação dos pais/encarregados de educação e o envolvimento da família nas actividades dos programas; consideraram que a educação para a sexualidade tem interesse se assentar num modelo bioético como o DIP3. Os professores referiram que o percurso feito com os alunos teve impacto pessoal e profissional. O modelo DIP3 foi percepcionado pelos professores como um modelo teórico que leva à construção de programas para a sexualidade adaptados às escolas, aos alunos, aos professores, aos pais/educadores, independentemente da formação de base dos professores e do ambiente socioeconomico e cultural dos alunos e familias. Apresentamos este modelo como um novo paradigma de educação para a sexualidade possibilitando, ao longo do processo de construção da Pessoa, uma reflexão sobre todos as dimensões que a integram, sobre si, sobre o outro e, a sua relação com o outro, perspectivando-se num futuro com sentido humanizante.