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- PARAPLEIN é preciso: os dramas de cenare domi segundo Marcial e LucianoPublication . Lopes, Maria José FerreiraO parasita, movido pela gula e pela preguiça, cedo irrompeu na literatura da Antiguidade Clássica, refletindo um tipo comum a várias sociedades e épocas. A interação constante entre literatura e sociedade, epitomizada pela Comédia, mas patente também na influência permanente dos poemas homéricos, gerou debates filosóficos e fixou na memória figuras parasíticas, de que se destacam o kolax grego e o parasitus romano. As mudanças operadas na sociedade romana pelo advento do regime imperial, em paralelo com o primado da riqueza e do luxo, criaram novos contextos para o parasita, nomeadamente ao desvalorizarem o estatuto tradicional do cliens e tornarem o convite para jantar com alguém rico e poderoso num objetivo existencial. Em tempos bastante próximos, os autores satíricos Marcial e Luciano de Samósata refletiram de forma convergente sobre esta escravidão (seruitium) social-mente imposta e passivamente aceite, elaborando uma espécie de patologia tragicómica da Vrbs (Damon 1997), e sublinhando que só o desprendimento e a sobriedade trariam a liberdade.
- De princeps optimus a occultum pectus: a construção do perfil de Tibério, nas palavras de Veleio Patérculo e TácitoPublication . Lopes, Maria José FerreiraA historiografia imperial romana revela-se uma fonte tão escassa como polémica. O caso de Tibério César é exemplar: a representação trágica de Tibério como um misantropo ressentido e dissimulado na obra mais sistemática sobre o seu reinado, os Annales de Tácito, sobrepôs-se aos evidentes méritos do governante prudente e escrupuloso. A defesa, por vezes exaltada, do imperador, iniciada com o Iluminismo, manifesta, porém, um utilitarismo que desvaloriza o real impacto da personalidade do governante na sociedade do seu tempo. Veleio é um apologista de Tibério, mas tem vindo a ser revalorizado por apresentar nas peculiares Historiae Romanae a visão particular da nova classe de homines noui provinciais que constituíram a base da administração imperial, perspectiva marcada, no seu caso, por uma relação de clientela e serviço público. O terminus ad quem da obra implica que Veleio assistiu ao retorno dos processos de lesa-majestade, mas assume, em prol da paz e estabilidade, uma defesa absoluta e solidária das atitudes do imperador. Destes retratos aparentemente antagónicos sobressai, curiosamente, um perfil algo convergente: um homem complexo e contraditório, marcado por tragédias pessoais e sobretudo pelo exercício do poder absoluto, incompatível com a sua emotividade.
- “Traje português” e Historiografia Novilatina: Damião de Góis e Jerónimo Osório como excepções ao perfil do relutante historiador humanista portuguêsPublication . Lopes, M. JoséA ordem real de editar o De rebus Emanuelis gestis foi crucial contra a enraizada escusa dos humanistas lusos à historiografia, mas é destacável o papel do autor do texto-base, Damião de Góis, que se afastou da “apagada e vil tristeza” pelo temperamento apaixonado e experiência internacional.
- A herança clássica no Romantismo: alguns vestígios da literatura de sentenças e emblemas em textos camilianosPublication . Lopes, Maria José F.
- Luz humana e escuridão divina: o exercício de mesura e desmesura da Medeia de Hélia CorreiaPublication . Lopes, Maria José FerreiraEurípides inovou ao encenar com uma Medeia de mentalidade heróica, filicida, mas com apoio divino, os paradoxos da mulher grega, dependente do nomosmasculino. Hélia glosa-o, debatendo o amor feminino num cenário opressivo, e expõe o ícore divino como causa do desvario anti-phýsis de Medeia.
- Vna aliqua gemma satis ad naturae contemplationem: o olhar original e verosímil de AgripinaPublication . Lopes, Maria José FerreiraMemórias de Agripina (1993) é uma obra marcada pelos lugares evocados pela mãe de Nero na sua derradeira noite. Os ambientes, naturais ou obra do homem, símbolos de ideias sedutoras. enfeitiçaram‐na, transformaram‐se em paisagens da sua mente e alma e permanecem impregnados da presença dos mortos. O ponto de vista de Agripina é definido pela sua versão da descrição taciteana do horizonte da sua morte: o inlustris céu de opala e cristal revela a sua visão poética, expressa em metáforas de gemas, reflexo do luxus do seu tempo que, segundo Plínio, via nelas o epítome da majestade da natureza.
- Entre a salvação colectiva e a salvação individual: alguns vestígios literários romanos dos mitos das Matres Idaea e AegyptiaPublication . Lopes, Maria José FerreiraA antiga Roma acolheu com relativa tolerância a generalidade dos deuses dos seus súbditos derrotados (Orlin, 2010, p. 3). Havia, de facto, limites: formatados por uma religião de estado, com rituais tão vetustos quanto estranhos, os romanos mostraram sempre receio por cultos orgiásticos que, além do descontrolo individual, potenciavam um oportunismo criminoso de efeitos colectivos: “ad summam rem publicam spectat” (Lívio, 39.16, sobre o escândalo das Bacanais de 186 a.C.). No entanto, em momentos de extremo perigo para a sobrevivência da Res Publica, e perante a impotência do panteão tradicional, verificou-se a introdução de deuses exóticos: assim, na Segunda Guerra Púnica, acolhem a Mater Idaea, incorporada no mito fundacional da Vrbs, mas acompanhada de séquito e rituais causadores de perplexidade e desconforto (Beard, 1996, p. 164). A conquista do mundo helenístico propiciou o contacto com outros cultos mistéricos, sobressaindo o que assenta no multifário mito egípcio de Ísis/Osíris, já adoptado e enriquecido pela cultura grega. Antes ainda das complexas reflexões de Plutarco (De Iside et Osiride) e da proclamação fervorosa de Apuleio (Metamorphoses), várias referências poéticas dos finais da República e inícios do Império sugerem a força da implantação deste culto, apesar do esforço de Augusto no sentido da restauração dos deuses tradicionais. Subjacente à nímia pietas dos iniciados, elogiada por Tertuliano (Ad Vxorem, 1.6), parece estar o equivalente a uma conversão, motivada pela ânsia de salvação individual (Bøgh, 2015).
- Viuus per ora uirum, mas também per faciles buxos: sobreviver ao dilúvio do esquecimento segundo MarcialPublication . Lopes, Maria José FerreiraCélebres pelo retrato satírico da Roma flaviana, os Epigramas de Marcial evidenciam também a dolorosa e trágica fragilidade dos seres humanos. Inbellis praeda (13, 94, 2) à mercê da feroz injustiça social, de acidentes, crimes e doenças, a humanidade é ainda alvo da inuidia dos deuses, personificada pela iniqua Láquesis (10, 53, 3), que alcança até os filhos dos imortais (9,86,4 e 6). A inexorabilidade da morte e a obliteração quer da presença física do indivíduo, quer da presença física do individuo, quer da sua memória entre os vivos, eram temas candentes nesses tempos instáveis e violentos, resultando na proliferação de cultos mistéricos que prometiam a salvação. As perspectivas sobre o Além e a imortalidade da alma eram variadas, mesclando tradições religiosas populares com elaborações literárias, informadas por escolas filosóficas antitéticas, com Virgílio, Cicero e Séneca – autores mencionados com admiração por Marcial –, Lucrécio ou Plínio, o Velho. O poeta de Bíbilis acredita num Além tradicional: ainda que inclua Elysias domos (1, 94,2), predomina o pavor das nigras umbras e do medonho Cérbero (5, 34, 3). Recordar os mortos e mitigar o uulnus dos vivos, ferida mais dolorosa nas mortes de jovens, eram imperativos cumpridos através de diversos monimenta doloris. Certo do efeito destruidor do “dilúvio” do tempo não apenas sobre objectos frágeis como as pinturas, mas até sobre monumentos de pedra, Marcial sublinha repetidamente o papel imortalizador dos seus versos, como já Énio fizera com o seu uiuus per ora uirum; mas sugere uma segunda “Arca” da alma e da memória, consoladora sobretudo para figuras humildes como o jovem escravo Álcimo: uma fusão com a natureza, através das plantas nascidas junto ao sepulcro, símbolos do perpétuo retorno – per faciles buxos (1,88,5). Assim, parece evocar as numerosas metamorfoses em plantas, como o jacinto ou o cipreste, de humanos que os deuses pretendiam manter de algum modo vivos.
- MILLER, Olivier; SANCHI, Luigi-Alberto, Paris, carrefour culturel autour de 1500Publication . Lopes, Maria José