Name: | Description: | Size: | Format: | |
---|---|---|---|---|
109.52 MB | Adobe PDF | |||
789.75 KB | Adobe PDF |
Advisor(s)
Abstract(s)
A informação existente sobre os materiais e técnicas utilizados na produção de
escultura sobre madeira policromada da Oficina de Joaquim Machado de Castro é muito
reduzida, sendo que a atenção dos investigadores se tem centrado mais na sua produção
artística de escultura em pedra ou em barro.
Assim sendo, este trabalho teve como objectivo principal, não só o tratamento de
conservação e restauro da escultura sobre madeira policromada de S. Francisco de Assis de
Joaquim Machado de Castro, de modo a conferir a estabilização química e física da obra
em questão, mas também, o estudo e análise das técnicas e materiais utilizados na a sua
construção. Tal estudo pretende, de uma forma geral, contribuir para o conhecimento das
técnicas de Machado de Castro e da sua influência na Arte Portuguesa na transição do
século XVIII para o século XIX.
Uma grande parte do trabalho desenvolvido consistiu na pesquisa de fontes
documentais sobre o local de proveniência, o período de produção da obra e o seu
enquadramento na actividade do próprio artista.
A obra foi submetida a vários exames e técnicas de análise laboratorial. Os métodos
utilizados foram o registo fotográfico sob luz visível de modo a se registar o estado de
conservação inicial e um registo documental de todas as fases de intervenção. Foram feitas
duas radiografias cujo objectivo foi o estudo do método de construção do suporte. A obra
também foi sujeita a fluorescência induzida por radiação Ultra-Violeta para se conseguir
identificar certos materiais presentes na sua superfície e avaliar o seu estado de
conservação.
Com o objectivo de identificar as cargas e pigmentos utilizados, mais especificamente
nas zonas do cabelo, carnações, vestes, peanha e estigmas de S. Francisco, assim como as
carnações da imagem de Cristo crucificado, recorreu-se à espectrometria de fluorescência
de raios-X dispersiva de energias (EDXRF), à microscopia óptica de reflexão (OM), para a
caracterização das amostras de policromia recolhidas de cada uma dessas áreas. A
microscopia electrónica de varrimento com espectrometria de raios – X dispersivo de
energias (SEM-EDS) foi usada na identificação da preparação e policromia de uma amostra recolhida da zona das vestes, uma vez que esta levantava questões que não foram
possíveis de esclarecer com os métodos utilizados anteriormente. Para a identificação do
tipo de carga utilizada na preparação procedeu-se à elaboração de testes microquímicos. O
objectivo deste exame foi verificar se a preparação era constituída por cré (carbonato de
cálcio) ou gesso (sulfato de cálcio).
Foram efectuadas tinções nas amostras das carnações, assim como das vestes e da
peanha. Este exame tem por objectivo a identificação do aglutinante usado na aplicação da
camada de preparação, assim como da técnica utilizada na execução da policromia.
Os métodos de exame e análise permitiram chegar-se a várias conclusões. A obra foi
esculpida a partir de madeira de cedro e possui um sistema de construção que consiste na
agregação com grude de quarenta e oito módulos. Possui dois olhos de vidro e a existência
de elementos metálicos na sua constituição é reduzida. Recebeu uma camada de
preparação por toda a superfície composta por gesso, sendo que o aglutinante utilizado foi
cola animal. Originalmente, a policromia foi elaborada a partir da técnica a têmpera, sendo
que o aglutinante utilizado foi, possivelmente, a gema de ovo. Foi sujeita a várias
repolicromias ao longo do tempo, tendo sido estas efectuadas a partir da técnica a óleo,
onde o aglutinante utilizado foi, provavelmente, o óleo de linhaça. Os pigmentos utilizados
foram, na carnação original, o mínio, o branco de chumbo e ocre vermelho, enquanto na
repolicromia se encontram o branco de chumbo e o ocre vermelho. Na barba e nos cabelos
foi utilizada a umbra queimada, enquanto nas vestes utilizou-se o negro de ossos, a umbra
queimada e o ocre vermelho. Nos estigmas, a policromia original foi feita, provavelmente,
com siena natural, enquanto a repolicromia foi feita com branco de chumbo e mínio.
Quanto à existência de uma camada de protecção, é composta por um verniz à base de uma
resina natural, mas não foi possível a identificação da sua tipologia.
Este trabalho inclui ainda um estudo de caso focado no modo de construção do suporte.
Este estudo em específico requereu o levantamento de várias fontes documentais, de
referências bibliográficas e de processos de conservação e restauro no Centro de
Conservação e Restauro (CCR) da Universidade Católica Portuguesa e no Instituto de
Museus e Conservação (IMC), sobre o uso de cedro como matéria-prima utilizada em
escultura e as diferentes técnicas de produção de esculturas sobre madeira. Concluiu-se que o cedro é uma matéria-prima adequada para a produção de escultura devido à sua
resistência aos factores de degradação e que, no estado actual dos conhecimentos, a
construção utilizada na obra de S. Francisco de Assis de Joaquim Machado de Castro não é
muito comum em Portugal, mas não se trata de um caso isolado. As obras portuguesas
semelhantes averiguadas datam da segunda metade do século XVIII (contemporâneas da
obra em estudo), sendo este tipo de construção mais comum em Espanha e em Itália,
centros que influenciaram o artista.