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Abstract(s)
Através do projeto genealógico que formam os três últimos volumes des plaisirs, Histoire de la sexualité III: Le souci de soi e Histoire de la sexualité IV: Les aveux de la chair), podemos ver como inevitavelmente
se formaram três discursos ético-políticos. A democracia ateniense, cujo governo estava formado pela
integralidade dos homens-cidadãos, inflenciouo desenvolvimento de uma ética marcada pelo governar-se para governar aos demais. Nesta ética fundamentou-se na ordem natural tanto a superioridade do homem e a
submissão da mulher perante este como o ato sexual em si mesmo. Este último não foi reconhecido como um mal mas atribuíram-lhe um mal intrínseco: a tendência ao excesso. A desmesura, akraisa, interligada à
passividade formavam aquilo a evitar. O uso dos aphrodisia devia guiarse pela necessidade e adequar-se ao kairos e à temperança, sophrosune e enkrateia. A medicina considerou essencial a economia do sémen, ao que associaram propriedades vitais, e a procriação, que permitiriam ao indivíduo um certo tipo de imortalidade. Com vários paralelismos com a ética, regulou a atividade sexual dos indivíduos através de um regime. Verificaram-se dois tipos de relação que preocuparam os pensadores. Por um lado, o matrimónio; o caso particular do adultério testemunha a dissimetria desta relação, onde a mulher era uma ajudante,
uma colaboradora na gestão do oikos. Esta gestão por parte do marido era importante porque oikos, indivíduo e estado pertenciam ao mesmo modelo de gestão. Por outro lado estava a relação de um homem-cidadão
e um rapaz livre, um erastes e eromenos. Uma relação legal e aceitada que preocupava os pensadores pelo seu caráter formador, pela honra e pela dificuldade de aceitar o rapaz como objeto de prazer. A tradição
socrático-platónica via neste tipo de relação a relação mais próxima da verdade. Era a relação onde se desenvolvia a philia, a relação predileta de Eros, mas não havia lugar para Afrodita.
Na Grécia antiga, a filosofia formava-se pela metafísica, a epistemologia e a ética. Por outro lado, nos dois primeiros séculos da nossa era, sob o estoicismo tardio, a ética converteu-se na filosofia,
atribuindo apenas importância às questões metafísicas ou epistemológicas. Nesta ética, o ponto de partida já não era o governar-se para governar os demais, era a própria debilidade intrínseca ao ser
humano, e caracterizou-se por regular o comportamento segundo aquilo que estava sob o controlo do indivíduo e o que não estava. Na idade dourada da cultura de si, era elogiada a austeridade da atividade sexual por esta não estar sob o controlo do indivíduo. Nestes dois séculos, a medicina ganhou maior notoriedade e, cada vez mais, confundia-se com a filosofia. Não houve mudanças nem
deslocamentos teóricos importantes em relação aos gregos, simplesmente um conhecimento mais detalhado e minucioso. Nos três séculos que durou o período helénico, a figura do homem cidadão perdeu o seu valor, o que permitiu que a figura da mulher ganhasse relevância. A mulher já podia decidir sob o seu futuro
matrimónio, o que provocou um deslocamento importante neste tipo de relações: a procriação já não era o que legitimava o matrimónio, era a relação afetiva entre os cônjuges. Enquanto a relação com os rapazes,
ainda sendo legal e aceitada, perdeu o seu interesse ético por três razões: por um lado a lei escantínia proibiu a passividade nos homens livres, o que provocou que os eromenos fossem escravos, sem interesse teórico,
por outro lado a formação institucionalizou-se e finalmente o que fazia atraente o amor pelos rapazes agora também se encontrava no matrimónio. O matrimónio juntava Eros e Afrodita. Nos inícios do cristianismo, a natureza também foi o ponto de partida para a fundamentação e a legitimação dos comportamentos mas
os pensadores cristãos interpretaram a ordem natural a partir das Escrituras. O logos que regulava a natureza, que os homens podiam entender, era também a palavra de Deus. Para se expiar dos seus
pecados e poder unir-se a Deus o indivíduo devia ser batizado. Na eventualidade de cometer um pecado grave, ainda que batizado, o indivíduo ainda tinha a possibilidade de recorrer a uma segunda
penitência. No século III, apareceu a vida monástica, um estilo de vida que buscava intensificar a relação do indivíduo com Deus, e onde a confissão e a direção tiveram um papel protagonista.
Ao mesmo tempo, apareceu uma prática singular sem implicar nenhum tipo de continuidade: a virgindade. A virgem, que devia sê-lo tanto em corpo como em alma, através do ato e do pensamento, foi considerada
pelos pensadores cristãos como equiparáveis aos anjos dada a sua incorruptibilidade: viviam no mundo terreno, uma vida do além, o que lhe concedia o status de esposa de Deus. Ao mesmo tempo que a vida monástica ganhava adeptos, o Império romano reconheceu e oficializou a Igreja. Esta relação provocou uma
valorização da vida corrente, e do que se separava o homem corrente do monge: o matrimónio. A partir desse novo interesse pelo matrimónio, a hermenêutica agostiniana reconheceu que o sexo, ainda que não fosse
um mal, trazia intrinsecamente consigo um mal: a líbido, tanto consequência da queda, como aquilo que transmitia, de pais a filhos, o pecado original. Entre estes discursos ético-políticos do sexual houve uma certa
continuidade mas também houve deslocamentos importantes devido à interpretação de dois factos interligados: a presença de dois sexos e o ato sexual.
Thanks to the genealogical project formed by the last three volumes of Foucault's History of Sexuality (Histoire de la sexualite II: L'usage des plaisirs, Histoire de la sexualité III: Le souci de soi and Histoire de la sexualité IV: Les aveux de la chair), we can see the interest that ethics and politics showed for the sexual both the act and the division of sexes in Ancient Greece, in the first two centuries of our era and at the dawn of Christianity. From Socrates to Saint Augustine, we can see how political changes had a major influence on ethics, and how, politics and ethics without considering sex as something bad recognized its intrinsic evils, whether it is the tendency to excess that would enslave the individual or the libido a consequence of the original sin . While it is true that the considerations were similar, it is also true that there were interpretative differences in regards to nature, making the ethical models of each era distinguishable. The ethical-political discourse of the sexual proved both continuity and interpretative differences through its intrinsic evils and was established as inevitable on account of the direct relationship between sex and procreation.
Thanks to the genealogical project formed by the last three volumes of Foucault's History of Sexuality (Histoire de la sexualite II: L'usage des plaisirs, Histoire de la sexualité III: Le souci de soi and Histoire de la sexualité IV: Les aveux de la chair), we can see the interest that ethics and politics showed for the sexual both the act and the division of sexes in Ancient Greece, in the first two centuries of our era and at the dawn of Christianity. From Socrates to Saint Augustine, we can see how political changes had a major influence on ethics, and how, politics and ethics without considering sex as something bad recognized its intrinsic evils, whether it is the tendency to excess that would enslave the individual or the libido a consequence of the original sin . While it is true that the considerations were similar, it is also true that there were interpretative differences in regards to nature, making the ethical models of each era distinguishable. The ethical-political discourse of the sexual proved both continuity and interpretative differences through its intrinsic evils and was established as inevitable on account of the direct relationship between sex and procreation.