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Neste trabalho procurei compreender o papel da personagem cinematográfica na
transmissão de uma obra Absurda, segundo os parâmetros defínidos por Albert Camus no
livro O Mito de Sísifo. Uma vez que Manifesto dos Danados, a curta-metragem associada ao
aprofundamento teórico desenvolvido na presente dissertação, pretende ser uma obra
Absurda, foi necessário perceber como se pode abordar a construção narrativa formalmente, e
como se deve estruturar a personagem de forma a veicular os princípios do Absurdo.
Começo por tentar restringir e analisar as dois eixos centrais da questão de
investigação em que se centra a presente dissertação: a personagem e o Absurdo. Quanto à
personagem, foi necessário aprofundar as várias camadas na sua construção, bem como
explicar os vários artificios que podem auxiliar o seu desenvolvimento. Relativamente ao
Absurdo, foi necessário uma contextualização histórica que explique a sua origem e natureza.
Para compreender o papel da personagem na obra cinematográfica Absurda, achei
obrigatório seguir uma linha de pensamento através das artes narrativas de forma a perceber
não só qual o papel que a personagem joga nas diferentes abordagens, mas também quais as
diferenças formais que se verificam pela natureza exclusiva de cada arte. Desta forma, optei
por uma linha de pensamento que percorre a literatura em primeiro lugar (uma vez que esta é
a tradução mais imediata entre o pensamento e a palavra, facilitando a transmissão dos
conteúdos), seguida do teatro (uma vez que este traduz a palavra para a acção), e finalmente o
cinema. Nesse sentido, foram analisadas, por cada uma das expressões artísticas destacadas,
três obras que permitiram perceber as diferenças de papel da personagem, e de que forma o
meio influencia a transmissão da obra Absurda.
De uma forma sucinta, enquanto a personagem na literatura é o suficiente para
provocar no leitor uma reflexão sobre o Absurdo, no teatro e no cinema este aprofundamento
não basta. O narrador existente na literatura, que nos abre a janela para o interior da
personagem, está-nos vedado nas restantes artes destacadas. Não é natural ao teatro ou ao
cinema a utilização desse tipo de artificio literário. Desta forma, os elementos formais de cada
uma das artes têm de se impor sobre a personagem, procurando criar um divórcio entre
personagem/acção e, no limite, espectador/acção. Para que tal seja possível, os meios naturais
disponíveis a cada arte devem ser extremados, procurando um choque constante entre a obra e
o espectador de forma a criar uma reflexão sobre o Absurdo. Estas ilações teóricas foram
indispensáveis ao desenvolvimento da curta-metragem Manifesto dos Danados, sendo a
última parte da presente dissertação dedicada à explicação dos passos conceptuais tomados de
forma a poder tentar criar uma obra Absurda.
No entanto, apesar do trabalho teórico apresentado e da sua experimentação na prática,
a temática do Absurdo, pelas suas consequências, possui ainda um vasto terreno a explorar,
que, pela minha paixão sobre a questão, faz da presente dissertação um primeiro passo numa
pesquisa que espero não só poder continuar a aprofundar, como a pôr em prática no campo
cinematográfico.