Advisor(s)
Abstract(s)
Para este trabalho proponho-me a fazer uma reflexão sobre o
produtor musical. Para além de um ensaio teórico, este trabalho baseia-se num projeto que desenvolvi, no qual foi gravado um álbum a solo intitulado “Pontes”, concebido por
Francisco Rua. Neste trabalho será explorado, a partir de uma perspectiva teórica, a
música e a sua estética, bem como o papel que esta tem vindo a desenrolar na nossa
sociedade ao longo dos tempos, e o papel de um produtor nos dias que correm. Isto será
complementado pela descrição pormenorizada do papel que desempenhei na concepção
deste álbum, sendo então descritas todas as etapas que permitiram a sua criação, desde a
idealização à conclusão do projecto, passando também pelas preocupações que lhe
estiveram subjacentes.
Penso que captar o melhor momento do artista, da melhor forma possível, é um
desafio aliciante. Será este o principal desafio do produtor: o materializar o pensamento e
estética musical de um artista, num documento ou suporte, que permita a passagem deste
registo para sociedade. Para este tipo de registo é necessário uma boa pré-produção: saber
como o artista se comporta durante a sua performance, saber como são as músicas que o
artista cria, qual a estrutura e dinâmica que quer imprimir à música. Conhecer o artista
que se está a gravar é uma necessidade muito evidente, pois é num ambiente relaxado e
confortável que o artista tem as melhores condições para criar a sua música. Visto que o
estúdio é um ambiente bastante desagradável de trabalhar, onde a ausência de
reverberação torna incómoda a presença nesse espaço, torna-se necessário saber como
minorar este desconforto, para que o artista se sinta mais ambientado ao espaço. São estas
pequenas subtilezas que permitem a diferença entre um take1 razoável, e um excelente
take. No entanto esta fase de pré-produção não engloba apenas isto. A pesquisa da
sonoridade que se quer atingir também é importante. Assim, a fase de testes de gravação
toma um papel cimeiro, onde o produtor deverá pesquisar o melhor lugar para gravar, os microfones que quer usar e qual a sua configuração. Só após esta procura do “som ideal”
é que se poderá proceder às gravações.
Obviamente que todas estas competências técnicas tomam um papel bastante
importante na vida de um produtor, no entanto não são as únicas ferramentas que deve
dominar. Como um produtor também desempenha um papel muito importante no
processo criativo da música, deverá também dominar todos os aspectos estéticos e
formais que englobam a concepção musical. O produtor deverá então, de acordo com o
seu sentido estético e com a sua perspectiva de abordagem, fazer uma análise crítica da
obra que se propõe a produzir para saber como poderá realçar a “mensagem” que o artista
se propõe a fazer passar. Todas as decisões tomadas pelo produtor deverão ser
conscientes, e terão que ser tomadas de acordo com a visão do artista e do tipo de estética
que o artista quererá explorar, mas também de acordo com a sua própria visão da música.
O papel de um produtor poderá talvez ser comparado ao de um “conselheiro”, que
negoceia continuamente com o artista e introduz insights relevantes acerca da sua
perspectiva da obra. Neste processo de negociação, ambas as partes expõem as ideias que
têm para a concepção do álbum. Avalia-se o resultado que cada um quer obter, para
futuramente se poder arranjar um consenso. É mediante este consenso entre as duas
partes envolvidas que um álbum pode ser feito, e neste caso, que o papel de um produtor
poderá ser produtivo.
Para uma melhor compreensão sobre o papel de um produtor no mundo da música
o presente documento será então um elemento explicativo da produção de um álbum
acústico, onde irão ser relatadas todas as decisões (desde a configuração da captura até à
escolha dos temas) que permitiram a produção do álbum Pontes.
