FFCS - Teses de Doutoramento / Doctoral Theses
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Browsing FFCS - Teses de Doutoramento / Doctoral Theses by Author "Brandão, Maria da Conceição da Silva"
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- Entre o silêncio e a figuração da palavra em Lídia Jorge : sacrifício, liberdade e construção da memóriaPublication . Brandão, Maria da Conceição da Silva; Martins, José Cândido de OliveiraNa literatura portuguesa contemporânea, Lídia Jorge afirma uma trajetória cujo lastro luminoso é portador de uma capacidade singular de dialogar em simultâneo com a imensidão do cosmos e com o espaço singular do homem, confirmando um propósito de uma demanda infinita na busca das palavras capazes de traduzir o mundo. Cremos que será esta busca obsidiante que convida ao decalque do sofrimento humano, da injustiça, da invisibilidade, do sacrifício e da esperança (esta que sempre abre um rasgo redentor na sua obra), denominadores que entendemos serem cruciais para a interpretação da mundividência da obra jorgiana. Assim, neste estudo, demonstramos que sacrifício, liberdade e memória afiguram-se como dominantes axiais nesta obra, faltando todavia na recepção crítica da autora uma aglutinação dos mesmos, um entrelaçamento que nos parece ser portador de uma discussão germinadora de amplos sentidos. Lídia Jorge será sempre uma escritora que faz circular um discurso em batalha com os desvios da sociedade, gesto carregado de riscos, mas apenas porque é imensa a sua capacidade de efabulação argumentativa. Talvez porque tivesse havido um tempo em que «os mitos nos visitaram». Ao mesmo tempo sobressai existe a invocação – que tudo move na revelação do oculto – a tornar-se numa coisa de transfiguração do real em que a mão da narradora se transforma numa «Beatriz em falta» às voltas com o desvelamento da alma. Assim, centraremos o início do nosso percurso nos dois romances que se constituem, para nós, como marcos de início e de fim de um ciclo de esperança no universo literário de Lídia Jorge: O Dia dos Prodígios (1980) e Os Memoráveis (2014a), a partir de onde criaremos um espaço à análise de outras obras da autora, nomeadamente, O Jardim Sem Limites (1995), O Vale da Paixão (1998) e O Vento Assobiando nas Gruas (2002), dando ênfase, quer à voz das suas personagens, quer à dilucidação do seu mundo interior e à dimensão poética da linguagem. Sublinharemos aquilo que entendemos como essencial na sua obra: a dimensão corpórea e silenciosa da palavra como meio de se debruçar sobre o outro e sobre o mundo bem como a tragicidade da existência humana abaulada no sacrifício, entendido como a catarse imprescindível na sobrevivência diária aos desentendimento humanos. «Entre o silêncio e a fulguração da palavra», remete, em suma, para a constatação de que esta é não só a base constitutiva dos textos de Lídia Jorge, como aponta a grande questão declarativa de toda uma obra.