Browsing by Author "Regadas, Susana Carla Ribeiro de Sousa"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- Famílias que integram pessoas dependentes no autocuidado : estudo exploratório de base populacional no concelho de Paços de FerreiraPublication . Regadas, Susana Carla Ribeiro de Sousa; Silva, Abel Avelino de Paiva eProblemática: A integração de uma pessoa dependente no autocuidado no seio do agregado familiar, comporta uma realidade passada, presente e futura. O envelhecimento populacional tem vindo a acentuar a proliferação de doenças crónicas e com isso, o incremento de pessoas dependentes no autocuidado. Estes novos cenários de necessidades em cuidados de saúde, reivindicam uma premente reflexão crítica, quer pela oportunidade de desenvolvimento do core de conhecimentos da disciplina de Enfermagem, quer pela possibilidade de sustentação de modelos de ação dos Enfermeiros, mais significativos para as pessoas. Objetivos: No âmbito deste projeto partiu-se para um estudo no concelho de Paços de Ferreira que visava a caracterização: das famílias clássicas que integravam pessoas dependentes no autocuidado; da pessoa dependente; do cuidador familiar; dos recursos utilizados; e, o melhoramento da compreensão deste fenómeno no que se reporta à experiência do cuidador familiar acerca da assunção e exercício do papel. Material e métodos: Tendo como população-alvo as famílias clássicas residentes no concelho de Paços de Ferreira, concebeu-se um plano de investigação que incluía duas etapas sucessivas. Num primeiro momento, um estudo de caráter descritivo e correlacional, que se enquadra nos modelos de investigação quantitativa de base populacional. Foi constituída uma amostra probabilista, aleatória, areolar, estratificada e proporcional com base na freguesia de residência, através de um sistema de informação geográfica. A recolha de dados foi realizada porta a porta por investigadoras-Enfermeiras com recurso a um formulário, instrumento esse que constitui uma ferramenta de utilidade clínica na perspetiva da avaliação multidimensional do fenómeno em questão. No momento seguinte levou-se a cabo um segundo estudo de natureza qualitativa, realizando-se para o efeito 6 entrevistas semiestruturadas a cuidadores familiares que integraram o primeiro estudo, referenciados como informantes privilegiados, no sentido de ampliar a compreensibilidade da problemática. Resultados: Das 2126 famílias clássicas que fazem parte do estudo, 11,73% integravam pelo menos uma pessoa dependente no autocuidado, sendo que 39,8% tem mais de 80 anos e a principal situação que originou a dependência são as doenças crónicas (63,6%), sendo a sua instalação gradual, em 66,5% dos casos. No que diz respeito ao grau de dependência, face ao domínio do autocuidado global, 91,7% tinham necessidade de ajuda de pessoa, 0,4% só necessitavam de equipamento, sendo que 7,9% eram totalmente dependentes, não participantes, “acamadas”. Constatamos assim que 99,6% dos dependentes necessitavam, no mínimo, de ajuda de pessoa para realizar, pelo menos, uma atividade do autocuidado. Os cuidadores familiares são na sua maioria do sexo feminino (89,6%), com uma média de idades de 56 anos, na sua maioria casada (75,9%), filho/filha da pessoa dependente (42,7%), e em 89,4% coabitavam com o dependente. Os resultados deste estudo demonstraram ainda que a taxa global de utilização dos recursos é de 53,5% o que significa que são utilizados pouco mais de metade, havendo diferenças significativas entre os diferentes domínios do autocuidado. Das razões referidas para a não utilização dos recursos, a mais significativa é a razão económica. Ao Enfermeiro recorrem 67,2% das famílias, que assumem o Médico como principal recurso profissional (92,9%). Os cuidadores familiares outorgam diferentes significados aos cuidados que prestam, reconhecendo no entanto que, a taxa de esforço, a exigência e a vulnerabilidade inerentes a este processo, torna o exercício do papel difícil e crítico, implicando uma preocupação constante, quer pela diversidade e complexidade de cuidados que prestam, quer pelas mudanças que esta situação despoleta nos seus próprios processos de vida. Conclusões: O fenómeno da dependência no autocuidado é hoje indubitavelmente uma temática emergente que urge escrutinar. A natureza mutável e complexa das necessidades de cuidados das pessoas dependentes requer que, os Enfermeiros reconheçam o sentido inevitável da mudança e deste modo possam gerar, para aplicar conhecimento próprio da disciplina. A pessoa dependente no autocuidado continua preferencialmente a ser integrada no contexto familiar, e este enquadramento conduz à transição do familiar cuidador, associada ao exercício do papel. As famílias desempenham um papel vital como recurso indispensável, por garantirem e assegurarem a satisfação das necessidades dos membros dependentes. Os cuidadores familiares assumem maioritariamente a relação de cuidados munidos de competências que adquiriram pela sua experiência ao longo da vida e por “tentativa-erro”, sendo certo que por vezes, mesmo fazendo “o tudo que podem e sabem”, se revela cabalmente insuficiente para dar resposta às reais necessidades do dependente. A profissionalização dos cuidados poderia alavancar este processo para maiores ganhos em saúde, designadamente sensíveis aos cuidados dos Enfermeiros, quer na reconstrução da autonomia/ independência possível no autocuidado dos dependentes, quer facilitando a transição saudável do cuidador familiar.
